03/02/2017

Um estranho na rua


Era uma sexta-feira qualquer. Dessas que a gente não marca na agenda, nem no calendário do celular pelo simples fato de ser extremamente desnecessário. É um dia comum, sem garoa, sem o frio costumeiro dessa cidade cinza. Um solzinho de fim de tarde e eu resolvi me encostar ali por perto. Sentir o clima daqui como há tempos não fazia. Os olhos fechados por um minuto e aquela brisa leve de poluição no rosto me acalmam, não tanto como na infância no interior mineiro, mas é um modo da natureza me dizer "eu estou aqui", mesmo sofrida, mesmo pisada, mas que se importa comigo.

Meninas passam em grupinhos, com sacolas de compras recheadas de potes, maquiagens, sapatos. Resquícios aqui e acolá de gente que está agoniada pra que o sol se ponha e eles possam curtir uma noite com gente que pensa a mesma coisa. Gente que acha que uma noitada bebendo vai curar o coração partido, o ego ferido e a briga desmedida com o chefe. Pessoas que acham que tirando um dia pra esquecer, uma semana inteira vai ser reparada. Um mês, uma vida. Acontece que a noitada pode render fotos incríveis para as redes sociais e tantos outros comentários, mas na segunda-feira, eles vão acordar com a mesma realidade batendo à porta e jogando na cara seus piores medos.

Acho que eu ando pensando demais pra uma pessoa da minha idade. Devo ter alma de uma senhora de cinquenta anos. É só que, me cansei de sentimentos passageiros, de momentos que não me levam à nada. Quero um feliz para sempre que comece agora, um amigo que me traga conteúdo e não me empurre bebida enquanto toca algum eletrônico numa balada qualquer, quero livros que me ensinem, rotinas que me tragam sorrisos, motivos que me façam dançar mesmo sem música. Quero essência, transparência. Não preciso de coisas que pareçam trazer felicidade. Felicidade sabe-se o que é, é pura, verdadeira, e dura... Ah, como dura. Enquanto eu vejo mais alguns estranhos em seus grupinhos sociais, reparo que em sua maioria, eles são todos os iguais. Dessa vez, com todos esses pensamentos autoconfiantes, a estranha na rua sou eu.

- repost de meu antigo blog.

10 comentários:

  1. Adorei o post, estranha na rua! Também me pego pensando coisas assim as vezes e também até me sinto uma velha por pensar essas coisas assim, mas nem ligo. "Quero rotinas que me tragam sorrisos, motivos que me façam dançar mesmo sem música. Quero essência, transparência. Não preciso de coisas que pareçam trazer felicidade." AMEI essa parte do texto, porque me identifiquei. Não quero uma falsa felicidade, eu quero felicidade.

    Beijos!
    www.likeparadise.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom Thami! Às vezes a gente passa tanto tempo refletindo sobre coisas aleatórias da vida, né? Depois estamos lá, cometendo o que prometemos não fazer. Sim, todos queremos felicidade. A real.
      Obrigada pelo comentário! :)
      Beijo :*

      Excluir
  2. Olá,Selma! Como você está? Eu não sei se estou te confundido mas eu me atrevo a perguntar,você tinha um blog com uma amiga sua? Você me parece tão familiar. Sua escrita é espetacular,é tão sutil de se ler e parece descrever um alguém tão real. As vezes penso também demais e me sinto como um velho birrento porém é sempre bom pensar nos momentos que passamos ou no futuro que iremos viver.
    Beijos ♡
    reckless

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, sou eu mesmo! Acabou que não deu muito certo tentar escrever em conjunto: sou meio egoísta com meus escritos, haha. Eu fico muito feliz com comentários assim, porque é realmente o que eu quero passar: uma escrita sutil e próxima de quem lê.
      Obrigada pelo comentário! :)
      Beijos :*

      Excluir
  3. QUE TEXTO MARAVILHOSO! Acho que já disse isso, mas direi novamente: escreve um livro. Você tem muito talento e muita sensibilidade para escrever. Por um momento eu me senti mesmo dentro da história, sentindo "aquela brisa leve de poluição no rosto me acalmam", vendo as pessoas passando ao meu redor, andando pelas ruas com sacolas, bebendo à noite, não sei explicar, mas eu me sentia MESMO dentro da história!
    Mas o que mais gostei foi o fato de que me identifiquei muito com ambos os lados que você descreveu. Sobre querer algo verdadeiro, transparente, real, me afundar em um bom livro. Mas ao mesmo tempo pensei também em quantas vezes não enchi o copo em uma festa pra tentar preencher alguma coisa que parece faltar dentro de mim, esperando que a música alta, a dança e as risadas me libertassem de alguma forma de tudo que me pressionava, me machucava. Não nego que fazia um bem enorme, por uma noite, porque no dia seguinte a realidade resolvia bater na minha cara junto com uma dor de cabeça enorme e um buraco negro onde deveria estar minhas memórias. Acho que transito com frequencia em ambos os lados descritos nesse texto maravilhoso, e confesso que por vezes que sinto meio perdida, mas quem não se sente afinal? Nem que seja pelo menos uma vez.
    Beijos e parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu amo ler os seus comentários! Fico sempre muito feliz com eles <3 Que bom que você se sentiu imersa na história, é exatamente assim que eu quero que aconteçam com quem ler.
      A gente acaba ponderando pelo lado que a gente idealiza e pelo o que a gente realmente faz, né? Todos nos perdemos alguma vez.
      Obrigada pelo comentário! :)
      Beijo :*

      Excluir
  4. Linda crônica. Eu sempre me sinto estranha no meio de muita gente. Não sei se eles que são muito padronizados ou eu que sou muito fora da caixinha haha
    Beijos

    Vidas em Preto e Branco

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho que a gente que costuma ser fora da caixinha, hein? haha
      Obrigada pelo comentário!
      Beijo :*

      Excluir
  5. Selmaaaa! ♥ Sua maravilhosa! Devo confessar-lhe que estou surpreso com este texto. Quando li o título e as primeiras frases, na minha cabeça eu estava imaginando um daqueles textos em que alguém se apaixona por um estranho na rua. (Texto clichê este que já fiz vários). kkkkkkk. Mas que texto! ♥ Fico feliz que tenha quebrado minha expectativa. Concordo com cada palavra escrita/dita. E acho que estou vivenciando isso. Acho que estou a procura de algo que realmente me preencha. Ontem, e isso é realmente verídico, fui à uma festa aqui da minha cidade. E quando eu estava lá, no meio de todas aquelas pessoas se beijando e se pegando como se não houvesse o amanhã, eu pensei: o que eu to fazendo aqui?... Eu gosto, gosto de momentos, porque acho que a felicidade são feitos dele. Mas hoje, assim como disse no texto, eu acordei e tudo tá a mesma coisa. A mesma realidade. Tensooo. E imagino que também esteja assim para todas as pessoas que vi ontem. Não é mesmo? Preciso de livros, de músicas, de arte e de sonhos. Isso sim é felicidade. Obrigado pelo texto! ♥

    ACESSO PERMITIDO. ♥
    www.acessopermitido.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada você pelo comentário Elcimar! Acho que no fundo, no fundo, todo mundo se sente assim: meio perdido e com vontade de preencher o vazio e a atenção em alguma coisa que pareça ter mais conteúdo que uma noitada de fim de semana. A gente extravasa, solta tudo e depois... Está tudo do mesmo jeito. Boas recordações, boas fotos e histórias pra contar no dia seguinte. Mas e a vida, e o coração trabalhando com a mente? Lá permanece igual. E passa a ser frustrante seguir pelo mesmo caminho.
      Beijão! ♥

      Excluir

Olá! Fico muito feliz de que leu o que escrevi com carinho e vai me dedicar um pouco do seu tempo para deixar um comentário. Eu agradeço. Eu tenho costume de responder a todos os comentários, então deixe marcado a caixinha "Notifique-me" no canto inferior direito da caixa de mensagem para receber a atualização em seu e-mail ou sinta-se à vontade para voltar a esse post e ver o que eu te respondi.
Um beijão, Selma Barbosa.