A cidade era minúscula. Nenhuma opção de transporte público e nem o carro tinha muita serventia. Depois de uma vida morando em uma metrópole agitada, finalmente Ricardo se sentia em paz. A cidade no interior acordava com o primeiro canto de galo e silenciava assim que o sol se punha. Trabalhando pela internet ele podia se dar esse presente.
Sua casa ficava há cerca de quinze minutos a pé do centro. Uma casa pequena com um terreno verde ao redor e uma cerca branca que ele mesmo se dispusera a renovar a pintura assim que se mudou. Precisava cruzar uma rua de ladrilhos e duas estradas de terra para conseguir encontrar a casa entre o matagal. Ele nunca estivera tão feliz: dos ruídos incômodos de carros e britadeiras, passara a ouvir pássaros pela manhã e uivos à noite. Mesmo sozinho, sentia-se completo.
Só lhe incomodava o fato da casa mais próxima a sua estar vazia desde que chegara. Era uma casa em condições bem melhores que a que tinha, mas ninguém comprava. Nem ele pôde porque não conseguira encontrar o proprietário. De todas as felicidades de conhecer todos os seus vizinhos, morar no meio de uma pequena floresta próximo à uma casa sem moradores era a única coisa que não o agradava. Pensou em ir até lá, dar uma olhada. Quem sabe até abrir as janelas para trazer um pouco de vida ao lugar.
Era um fim de tarde de verão. O sol demoraria algumas horas para se pôr e o expediente do dia já estava findado. Ricardo cruzou as duas estradas de terra e ao invés de seguir adiante pela rua de ladrilhos rumo ao centro da cidade, ele virou à esquerda para uma nova estrada de terra. O caminho era como todos os outros que cerceavam a cidade. Seguindo à passos ritmados pelo solo íngreme, um frio subiu-lhe a espinha e ele se perguntou porque não levara um casaco consigo. Mas era verão ainda, não era? Dois minutos depois e a mata tornou-se mais densa. Contrastando com o verde vivaz da folhagem, lá estava o telhado ocre que parecia ter sido recém-trocado. As paredes externas pintadas de azul turquesa numa tentativa frustrada de imitar o céu.
Passou a mão nos bolsos por puro reflexo e deu alguns passos adiante. A casa parecia ainda mais radiante vista de tão perto. As janelas estavam fechadas e pouco se via do lado interno. O único local que lhe daria algum vislumbre seria a porta. Pelo buraco da fechadura ele viu. E se afastou mais rápido do que devia, o que fez com que suas mãos fossem de encontro ao chão duro de terra. Pela pequena fresta da fechadura, ele viu uma mulher enforcada, com a corda ainda balançando.
Chocado, pensou em sair pela estrada de terra, pega a rua de ladrilho e chamar a única patrulha policial da cidade. Olhou o relógio no próprio pulso: de nada adiantaria, já passava das dezenove horas. Na cidade encontraria, no máximo, algum cachorro procurando abrigo na escadaria da igreja central. E se ainda estivesse viva? Num impulso desajeitado, ficou de pé. Alguns bons passos para trás e correu firme em direção à porta, que cedeu mais rápido do que ele poderia imaginar. Caído sobre a porta cuja madeira começava a arrebentar, ele levantou a cabeça para contemplar o motivo de sua invasão. Mas não havia mais nada lá. A corda suspensa no ar balançava sozinha.
O frio ficava mais forte a cada segundo que passava. Como se ele estivesse em frente à uma geladeira aberta. Achou que talvez a mulher percebeu sua presença e decidiu desistir do suicídio. Pretendia encontrá-la para quem sabe levá-la a um hospital, procurar alguém que pudesse ajudar. Quando subiu seis degraus da escada, que rangiam ruidosamente à cada pisada, Ricardo ouviu o bater de porta atrás de si. Olhou para a entrada da casa e viu o local por onde havia entrado intacto. Parafusos e madeiras no lugar. Puxou a maçaneta e verificou a porta trancada. Como? Atrás de si, a corda balançou tão rápido que bateu no teto. Com o coração saltado, ele viu um pedaço branco esvoaçante. Agora sabia o motivo da casa estar vazia. Aqueles olhos profundos e tristes, jamais se esqueceria deles. Jamais se libertaria deles.
Passou a mão nos bolsos por puro reflexo e deu alguns passos adiante. A casa parecia ainda mais radiante vista de tão perto. As janelas estavam fechadas e pouco se via do lado interno. O único local que lhe daria algum vislumbre seria a porta. Pelo buraco da fechadura ele viu. E se afastou mais rápido do que devia, o que fez com que suas mãos fossem de encontro ao chão duro de terra. Pela pequena fresta da fechadura, ele viu uma mulher enforcada, com a corda ainda balançando.
Chocado, pensou em sair pela estrada de terra, pega a rua de ladrilho e chamar a única patrulha policial da cidade. Olhou o relógio no próprio pulso: de nada adiantaria, já passava das dezenove horas. Na cidade encontraria, no máximo, algum cachorro procurando abrigo na escadaria da igreja central. E se ainda estivesse viva? Num impulso desajeitado, ficou de pé. Alguns bons passos para trás e correu firme em direção à porta, que cedeu mais rápido do que ele poderia imaginar. Caído sobre a porta cuja madeira começava a arrebentar, ele levantou a cabeça para contemplar o motivo de sua invasão. Mas não havia mais nada lá. A corda suspensa no ar balançava sozinha.
O frio ficava mais forte a cada segundo que passava. Como se ele estivesse em frente à uma geladeira aberta. Achou que talvez a mulher percebeu sua presença e decidiu desistir do suicídio. Pretendia encontrá-la para quem sabe levá-la a um hospital, procurar alguém que pudesse ajudar. Quando subiu seis degraus da escada, que rangiam ruidosamente à cada pisada, Ricardo ouviu o bater de porta atrás de si. Olhou para a entrada da casa e viu o local por onde havia entrado intacto. Parafusos e madeiras no lugar. Puxou a maçaneta e verificou a porta trancada. Como? Atrás de si, a corda balançou tão rápido que bateu no teto. Com o coração saltado, ele viu um pedaço branco esvoaçante. Agora sabia o motivo da casa estar vazia. Aqueles olhos profundos e tristes, jamais se esqueceria deles. Jamais se libertaria deles.
Moça, estou completamente presa às suas palavras, parece até que vivi este conto, tanto é que meu coração medroso está agitado. Você escreve de um modo singular e muito cativante!
ResponderExcluirAh obrigada! E espero que já tenha passado a agitação. Fico feliz que meu conto tenha passado exatamente a sensação que queria que passasse.
ExcluirBeijão ♥
Menina, que blog é esse?
ResponderExcluirQue maravilha, ein! Arrasou demais <3
Estou seguindo
Beijinhos,
Dossiê de Verão
Haha, obrigado pelo comentário! :)
ExcluirBeijão ♥
Guria! Fiquei boquiaberta olhando para a tela durante um bom tempo. Tive que reler o conto só para confirmar: que genial.
ResponderExcluirA forma como você escreve é tão cativante e envolvente, visse? Consegui sentir o ar interiorano da cidade e até a brisa com cheiro de verde que costuma rondar por locais desse gênero.
O plot twist dos três últimos parágrafos foi sen-sa-cio-nal. Sério, você escreve bem demais. <3
Ainda em tempo: o novo layout está maravilhoso!
Beijos,
Attraversiamo.
Sério? Meu Deus que maravilha saber que consegui provocar essa sensação tão boa o suficiente para que você tivesse vontade de reler o conto! Eu fico feliz de você ter captado todo o ritmo e ar do ambiente que quis criar, porque o conto não seria o mesmo sem ele.
ExcluirSério: muito, muito obrigada por esse comentário, pelo elogio e carinho de sempre!
Beijão ♥
miga, nao faz mais isso comigo
ResponderExcluirto aqui no estágio de boas, tomando um chazinho e pensando 'nossa, que texto bonitinho... vou continuar lendo'
de repente PAAAAA
hj só vou dormir qd o vini for pro quarto :(((((((
você escreve bem demais ♥
Ah desculpa Manie! </3 haha
ExcluirPelo menos você gostou, né? Vini vai ajudar a Manie! kkk
Obrigada pelo comentário! :)
Beijão ♥
Nossa.. que pesado.
ResponderExcluirO começo do conto eu achei que seria algo, de reflexões da vida e tais.
Eu consigo ver a casa, a porta aberta e a mulher pendurada!
Tudo isso é muito pesado!
Vc escreve muito muito!!
http://minhaformadeexpressao.blogspot.com.br/
Foi sim Nath, eu até contorci a cara enquanto escrevia acredita? Eu fico é feliz de você ter conseguido ver tudo (mesmo que não seja lá algo muito legal de se ver).
ExcluirObrigada pelo comentário! :)
Beijão ♥
Estava eu procurando um textinho leve para ler na madrugada de sexta antes de dormir, quando me deparo com esse texto que pelo início parecia ser aquilo que esperava, com todo o clima de cidade pequena com o qual me identifiquei. E quando eu menos espero o personagem vê uma mulher enforcada. Juro que queria parar por ali, porque sou medrosa e fiquei logo imaginando espíritos haha Mas você escreve tão bem e conduz a narrativa de forma impecável que não podia parar. E juro, cada pelinho do meu braço se arrepiou com o último parágrafo. Fiquei um bom tempo olhando pasma para o computador depois disso! Acho que o mais me encanta nos seus textos são isso, não temos como saber o que realmente vai acontecer e quando menos esperamos somos pegos de surpresa.
ResponderExcluirBeijos e parabéns por essa história incrível!
P.S.: Me passa um pouco da sua criatividade? haha
P.S.2: Acho que vou ter que dormir com a luz acesa, porque SIM (!) sou medrosa.
Você, a Manie e a Nath sentiram isso no começo do texto. E era realmente essa sensação que eu queria passar, de cidade pequena e tranquila à cenário macabro. Mas eu fiquei feliz mesmo foi por você ter dado uma chance, mesmo com medo de continuar a ler. E isso de ficar um tempo olhando para a tela do computador! ♥ É quando a gente não sabe o que dizer que acontece essa sensação, não é? E você sentiu isso por algo que eu escrevi! Eu não poderia estar mais feliz!
ExcluirE muito obrigada pelo comentário!
Beijão ♥
PS.: Eu não preciso te passar criatividade, porque você tem um talento incrível também.
Olá Selma, acabei de chegar por aqui, encontrei o seu blog através do grupo United Blogs e o estou amando e seguindo *-* achei o seu texto fantástico; cada palavra realmente nos leva a ouvir os cânticos dos passarinhos em um lugar verde e tranquilo e logo em seguida nos transporta para uma casa assombrada, misteriosa e desafiadora. Parabéns, você escreve muito. Consegue levar o leitor a imaginação e isso é fantástico. Se puder, faz um visitinha ao meu blog :3 Beijocas. Te aguardo <3
ResponderExcluirSorriso Jovem | SJ Oficial Fanpage
O United é super amorzinho ♥ AIMEUDEUSDOCÉU! Vocês estão deixando meu coração mole com tanto elogio carinhoso. O melhor mesmo é saber que todo mundo conseguiu sentir o arzinho de interior e cidade quieta.
ExcluirObrigada pelo comentário e pelo elogio! Pode aguardar sim que já eu apareço! :3
Beijão ♥
Eu realmente me assustei quando ele viu a mulher enforcada! Deu medo usahushausha' Ficou muito bom seu conto, bastante envolvente, parabéns!
ResponderExcluirQue bom que conseguiu sentir a ambientação do texto! (mesmo que não seja lá uma sensação muito legal haha)
ExcluirObrigada pelo comentário e pelo elogio! :)
Beijão ♥
Ai...sou super medrosa hahaha...me deu um apavoro que fui acender todas as luzes da casa hahahaha e virei o espelho que fica aqui na mesa pro outro lado.
ResponderExcluirMas posso falar...gostaria de escrever 1/3 do que você escreve :)
Parabéns!!!
kkkkkk apesar de ser uma sensação não tão legal é bom porque sei que consegui expressar em você exatamente o que queria enquanto escrevia.
ExcluirMuito, muito obrigada pelo comentário e pelo elogio!
Beijão ♥
Você é muito criativa, ótimo texto. Bjs
ResponderExcluirhttp://www.poppiposh.com
Obrigada pelo comentário e pelo elogio Dany!
ExcluirBeijão ♥
De vez em quando eu venho ler um texto seu, aí começo achando que vai ser daqueles amorzinhos, que nos fazem suspirar, mas, no fim, fico encarando o texto abismada com o final aeaieh. Eu seria do tipo que sairia correndo, senhor, sairia mais rápido possível daquela casa, mas sempre tem uma história, por trás, não tem? ♥
ResponderExcluirO Ricardo é um moço muito inconsequente, viu? Acha que vai ter alguém pra ver e ajudá-lo igual na cidade grande. Não sei porque ele teimou tanto com aquela casa... Eu faria o mesmo, deixaria pra lá e sairia correndo.
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