[Leia ouvindo Cold Arms - Mumford&Sons]
Em todos os papéis que ela havia escrito o nome dos dois entre corações, agora havia riscos de caneta com um leve baixo relevo. O azul forte, o nítido vão que se formou graças à pressão empregada na caneta. As fotos que os dois tinham tirado juntos viraram picadinhos no fundo do lixo do quarto dela. Facebook, Twitter, Instagram... Ela não tinha mais sequer vestígios de posts compartilhados com o nome dele. O perfume que ele dera há menos de cinco semanas, ela havia doado pra uma prima do interior, com a promessa de que ela usaria o perfume somente no cachorro da fazenda.
Fazia aquilo tudo mais para alimentar o próprio ego. Como se tivesse sido liberta, precisava se desapegar dos detalhes para não ficar apegada ao passado. Tanto tempo, tantos planos. E agora se sentia tão alheia como sua própria versão de 13 anos. Sempre fora forte, prometera não se entregar. Você lembra-se da promessa que fez pra sua melhor amiga – da época – enquanto conversavam na arquibancada do ginásio? De repente, ela estava em prantos em frente à lixeira de sua casa, admirando papéis picados. Queria deixar ali também o próprio coração, porque se desfazer do material não parecia ajudar em nada.
Queria que chovesse, queria que o tempo chorasse junto consigo, que fizesse o favor de tornar tudo mais fácil. Mas o mundo não conspirava a seu favor. A noite estava quente lá fora e o condicionador de ar estava quebrado. E eram só sete horas da noite de uma terça-feira. No dia seguinte enfrentaria um escritório empanturrado de gente que não se importa. E acenaria com a cabeça fingindo que entendia o que se passava num projetor em uma reunião desnecessária. Números, números, quantidade. Quem se importa? E a qualidade, quando vai se tornar a mais importante dessa peça desvairada?
Um fim de relacionamento de cinco anos e ela continuava chorando porque não poderia chorar o quanto queria. A vida continuaria e ela simplesmente teria que dar um jeito de seguir adiante. Nem que fosse fingindo um sorriso, uma falsa felicidade ou com os números recém-atingidos na empresa em que trabalha. Afinal quem se importa? É só um término, passa. Passa? Rápido? Indolor? E porque doía? E porque ela continuava em frente à lixeira arrependida? Porque o lado inconsciente de seu cérebro dizia para engolir o orgulho e pedir desculpas quando ela sabia não ter culpa de absolutamente nada?
Não colocou músicas tristes. Não ouvia nada. Um bater de portas na casa vizinha, um latido no fim da rua. Silêncio. Era o que precisava. Duas da manhã e a vida continuava. Seja forte, permaneça forte. Mantenha a cabeça erguida. Com o celular em mãos, olhou o contato. O olhar brilhante, o sorriso mostrando os dentes alinhados. As covinhas charmosas que despontavam nas bochechas. Um dedo em cima da tecla de ligar e um coração que parecia querer saltar do peito. Chamou duas, três vezes. “Olá?”, uma voz feminina sonolenta do outro lado. Botão de encerrar ligação pressionado rapidamente. A vida continuava para ele também. Só ela permanecia estagnada diante de uma lixeira. Sentada no chão gelado da sala. O rosto com o resto de maquiagem e um banho não tomado dava sinais em seu corpo sem curvas.
Fechou a lixeira e pegou um copo de água gelada. Pulando de canal em canal na televisão, chorou amarguras e bebeu esperança. Ela se esvaziou e se encheu. Quatro da manhã. Nada de interessante pra se ver. E um dia sem perspectiva a ser enfrentado. Os restos de um sentimento não curado ainda gritavam junto aos restos de comida. Jogou o copo com força contra o tampo da pia. Pedaços se espatifaram pelo ambiente. Ela olhou atônita ao redor. Cinco da manhã. Mais uma hora e seria hora de acordar.
De banho tomado, cabelo seco e sacos de lixo devidamente posicionados na rua para que o caminhão levasse, ela enfim respirou longa e profundamente. Podia cruzar a cidade e subir o elevador do prédio espelhado. Saberia fingir estar bem, saberia dizer sim e sorrir a quem lhe dissesse bom dia. Era o que costumava fazer, não era? Vestida com a costumeira roupa social, deixou o carro na exata posição que estava, deu meia volta, pegou o único saco de lixo que estava na rua e entrou em casa. Não estava curada ainda. Lágrimas teimosas rolaram pelo rosto. Só um dia. Só precisava de mais um dia.
Um fim de relacionamento é sempre algo complicado, porque o tempo cura, mas demora a passar. Adorei de coração o seu texto, viu? Você escreve realmente muito bem guria <3
ResponderExcluirAcabou de ganhar mais uma seguidora <3
Beijão!
http://tempestarei.blogspot.com.br/
Acaba sempre sendo difícil, mesmo que o relacionamento já não estivesse indo bem, porque no fim das contas essa ruptura no cotidiano sempre dói. Seja lá em qual âmbito da vida acontecer. Muito obrigada pelo comentário e pelo carinho de seguir o Conto!
ExcluirBeijão! :*
Fim de relacionamento é bem assim! Ótimo texto.
ResponderExcluirBeijos, Aline
Verso Aleatório
Obrigada pelo comentário Aline!
ExcluirBeijão! :*
Sua escrita melhora dia após dia, Sel... As metáforas, a força das palavras... Céus, dá para sofrer junto com a personagem!
ResponderExcluirMeus parabéns.
Beijos e uma semana maravilhosa para você!
O Único Jeito ♥
p.s: participando dos grupos todos ali do lado porque suas indicações são sempre maravilhosas <3
ExcluirLari, você não imagina o quão é importante pra mim ler um comentário desses vindo de você. Ainda mais que você sempre foi e continua sendo minha maior inspiração da internet pra escrita.
ExcluirFico muito feliz que você tenha sentido exatamente o que eu quis passar com o que a personagem.
Ah, que bom! Eu recomendo todos os grupos. Só o da Confraria que eu não interajo tanto, mas gosto de todos, viu?
Beijão Lari, boa semana pra nós! ♥
♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
Excluirp.s. (depois dos coraçõezinhos que representam gratidão enorme de imensa): acabou que, no fim das contas, só fiquei participando da Confraria; achei os outros maravilhosos também, mas vi que eles são mais exigentes no quesito interação e a verdade é que eu passo pouco tempo nas redes sociais... No meu ritmo, seria banida (ou teria minhas orelhas puxadas) logo, logo, haha'
ExcluirMas agradeço muito, de qualquer forma ♥
Li em ACEDE que a dor precisa ser sentida, e é exatamente isso que acontece em um término de relacionamento. Nos precisamos chorar, e espernear, e gritar, e dizer todas as coisas ruins que estão entaladas na garganta. Só assim é possível entender o significado do que sentidos e o que precisa ser deixado de lado. O amor continua, sempre, mas, com o tempo, vai se mantendo mais quieto ♥ Amei
ResponderExcluirQuando a gente não sente a dor acaba deixando guardado, o que é bem pior. Obrigada pelo comentário!
ExcluirBeijão ♥
Terminar um relacionamento é muito dificil, seja ele qual for, mas precisamos passar por isso, faz parte da vida.Beijos no coração.
ResponderExcluirSim, sempre.
ExcluirObrigada pelo comentário!
Beijão! ♥
Que conto maravilhoso! É exatamente assim, nós precisamos de só mais um dia. As vezes esse dia demora a chegar, mas como li num comentário acima, a dor precisa ser sentida! <3
ResponderExcluirÀs vezes é mais um dia, mais uma semana... Cada um sofre seu tempo, mas sofre. E às vezes é até necessário pra amadurecermos mentalmente também, né?
ExcluirObrigada pelo comentário! :)
Beijo! ♥
Fim de relacionamento é algo Weir machuca muito, principalmente quanto tem aquele amor que não acabou, compreende? Estou passando por isso, espero conseguir me livrar o mais rápido possível.
ResponderExcluirO seu incrível texto me fez pensar, querer continuar lendo e me afogar em tuas palavras. Eu me apaixonei na sua escrita, assim como todos os outros.
m-onologo.blogspot.com
Sim. Ainda mais quando se sobra um pouco de saudade junto da decepção, né? Complicado, mas passa. Uma hora passar. Talvez com um dia a mais, uma semana. Uma hora o choro cessa.
ExcluirObrigada Ana! Eu fico muito feliz com cada incentivo. Saber que alguém gosta do que escrevo sempre me impulsa a escrever sempre mais. E tentar melhorar a cada vez.
Obrigada pelo comentário!
Beijão! ♥
Oi! Texto lindo, você escreve muito bem. Bjos <3
ResponderExcluirClick Literário
Obrigada pelo comentário! :)
ExcluirBeijo ♥
Owwnnt Selma! Nem fale comigo sobre fins de relacionamento! Estou vivenciando um! hahaha! (macaquinho de vergonha aqui). Adorei o texto. 5 anos realmente seriam muito para absorver. E nem sempre é fácil deixar tudo para trás, e rasgar todas as lembranças. Eu quem o diga. Mas de uma coisa tenho certeza, e até de modo empírico... é só com o tempo mesmo! Mais um dia e mais dois dias e mais...
ResponderExcluirAdorei o textoo! Parabéns!
ACESSO PERMITIDO. ♥
www.acessopermitido.com
Espero que não tenha mexido com você, hein? Enfim, desejo que você passe tranquilo por essa fase e que sejam lá quantos dias forem necessários, que no fim você só leve aprendizado, ok?
ExcluirObrigada! :)
Beijão ♥
Ai gente, fiquei até tristinha, querendo abraçar a personagem do texto.
ResponderExcluirVocê descreve tão bem a situação, fiquei com vontade de ler mais para saber no que vai dar.
Enquanto eu escrevia, senti a mesma coisa, sabia? Deu vontade de dizer "calma, calma, vai tudo ficar bem!". Loucuras de quem escreve, né? Talvez quem sabe uma continuação, hein? Bem, veremos, veremos...
ExcluirObrigada pelo comentário! :)
Beijão ♥
Selma, acho incrível a forma como você faz pulsar as linhas. A gente se prende à personagem, senta e chora junto dela. Eu engoli as lágrimas e torci, meudels como eu torci, para que ele atendesse o telefone e eles retomassem o amor recém terminado.
ResponderExcluirAchei o final surpreendente. Achei que seria aquele padrão de 'a vida não pára para corações quebrados'.
Mas para. Um dia.
INCRÍVEL.
Beijo meu,
Mafê
Eu sinto vontade de rir desesperadamente quando as pessoas comentam isso. Que sentiram o que a personagem sentiu e que se apegaram a ela. A vida nem sempre acontece só com coisas boas, não é? Enfim, mas no fundo, depois de alguns - ou vários - dias, ela se reergue. Faz parte.
ExcluirObrigada pelo comentário! :)
Beijão ♥
Incrível. Os detalhes, a maneira que as frases são compostas, pensadas em lados não pensados para mostrar os sentimentos e ideais que alguém vivendo, apenas.
ResponderExcluirAcho que você tem uma habilidade para compreender coisas não vividas. Parece que as pessoas lhe contam isso minuciosamente. Mais do que interessante, você começa a ler e já acabou...
Repetição de existência, nada além. As pessoas que certamente estão vivendo uma vida já vivida. Triste, porém, algo é necessário.
Escreva mais, please.
Eu sempre fico feliz com seus comentários. Alguém que escreve tão bem elogiando minha tentativa. Obrigada por tudo, por ter percebido o que eu quis passar em cada parágrafo.
ExcluirE sim, pretendo escrever sempre mais e cada vez melhor. Um dia eu vou reler tudo isso e dizer: não é que eu melhorei? haha
Obrigada pelo comentário! :)
Beijão ♥
Incrível. Os detalhes, a maneira que as frases são compostas, pensadas em lados não pensados para mostrar os sentimentos e ideais que alguém vivendo, apenas.
ResponderExcluirAcho que você tem uma habilidade para compreender coisas não vividas. Parece que as pessoas lhe contam isso minuciosamente. Mais do que interessante, você começa a ler e já acabou...
Repetição de existência, nada além. As pessoas que certamente estão vivendo uma vida já vivida. Triste, porém, algo é necessário.
Escreva mais, please.
Aawn que incrível *U* Me identifiquei em algumas partes <3
ResponderExcluirBeijos,
www.thalitamaia.com
Obrigada pelo comentário! :)
ExcluirBeijão! ♥
É triste e é lindo. Eu tive um término assim. Foi dolorido, demorou pra ser curado, precisei de refúgio, de colo, de amigos, de festa... Mas uma hora a gente deixa de se importar tanto. Esquecer a gente não esquece, mas deixa lá no fundinho da memória.
ResponderExcluirVidas em Preto e Branco
A pessoa sempre vai ficar marcada por ter feito parte de um momento da vida. Mas chega uma hora que passa, né? E para de doer tanto.
ExcluirObrigada pelo comentário. :)
Beijão!
Nem sempre é fácil se curar de um amor. Quando ele chega ao fim, é sempre assim. As vezes é difícil aceitar, mas precisamos. Amei o seu texto!
ResponderExcluirBjos, Blog Marinspira <3
Sempre dói, mas chega uma hora que para de doer tanto e se torna mais fácil se manter de pé. Um dia a gente se reergue, né?
ExcluirObrigada pelo comentário! :)
Beijão.
Acho que terminar qualquer relação nunca é fácil. E é normal sofrer um pouco, afinal é preciso sentir a dor para deixa-la ir, se curar. Acho que seu texto retratou bem esse período de "luto" que acontece após o fim de uma relação.
ResponderExcluirBlog Profano Feminino