13/05/2017

Não acredito em entedimento


Eu podia escrever no título dessa postagem um simples "Uma carta para minha mãe", mas ia ficar muito vago, meio infantil e não ia conseguir expressar tudo o que eu sempre paro para pensar nessa época – ainda mais esse ano, não sei porque. Atualizando a bio do meu Instagram e a descrição que aparece no Google quando pesquiso pelo nome do blog, surgiu a ideia de me descrever como alguém que ainda não entendeu como funciona a vida adulta. Depois voltei atrás e imaginei que na verdade ninguém entende perfeitamente ou todo mundo finge muito bem, vai lá se saber.

Num dos episódios da oitava temporada de How I Met Your Mother (e desculpa por falar da série de novo, mas é que só tenho assistido isso, literalmente), Lily e Ted conversam sobre o quanto eles precisam contar a verdade para pessoas que estão intimamente ligadas ao seu redor. Ted não quer contar a Robin que ainda a ama (isso não é spoiler, hein?) e então Lily conta um de seus maiores segredos: a vontade íntima que tem, de só às vezes, poder desistir da maternidade. Passar um tempo fora e esquecer de toda a rotina que a envolve o tempo todo com o bebê. Que mesmo amando o fato de ter originado uma vida, às vezes cansava.

  

Brincadeiras – e chinelos teleguiados à parte –, é difícil quem não tenham uma mãe que tenha dito uma das clássicas frases "um dia eu saio de casa e vocês vão me dar valor". Até a Rochelle disse. Está aí o Chris pra não negar.  E enquanto eu via a Lily chorando no telhado de um apartamento em Nova Iorque sobre a dificuldade de ser mãe, eu percebi que isso é outra coisa que ninguém nunca vai conseguir entender ou saber lidar. Você pode até sonhar com um embrulho pequeno e indefeso nos braços por um dia, mas vai ficar desesperado quando simplesmente não ter mais ideias de como fazê-lo dormir ou ficar em silêncio por um minuto. Do mesmo modo que você vai buscar motivos de ele não ter ido bem na escola, quando você tanto ajudou, vai ser esse mesmo ser que vai te fazer sorrir feito boba com um papel manchado de tintas misturadas com um coração desenhado. No meio dele, o seu nome.

A gente cresce, vem responsabilidades que a gente não aprende a enfrentar durante a escola, já que enquanto isso estamos "perdendo tempo" com trigonometria e a fórmula de Bhaskara (eu falei que não ia precisar dela nunca mais, não foi professor?), mas a maternidade pode, pelo menos em até certo modo, ser planejada. E eu, como a maioria das meninas na infância, que tinha todo aquele ideal romantizado de ser mãe, de trocar fralda, dar papinha, por pra dormir e embalar no colo, hoje entendo bem que diz veemente que não quer ser mãe. Isso é coisa pra gente forte demais. Coisa pra gente que enfrenta às coisas sem entender, que se joga sem ver a altura.


Eu não sou assim. Das férias de julho ao meu ensino de inglês, do tempo "perdido" na internet a onde me imagino daqui a dez anos, tudo é planejado na minha mente. Não anoto em lugar nenhum, nem faço bullet journal ou planner ou qualquer outro item da papelaria que venha a ser inventado. Isso é coisa pra gente organizada demais. Não que eu acabe tendo algumas frustrações ou recalculando algumas rotas durante o caminho, mas no final acaba sendo aliviante fingir que eu tenho algum tipo de controle no destino – o que quase sempre parece ser mentira, mas tudo bem.

De HIMYM aos dia das mães... Bem, mãe é um ser humano corajoso PRA CARALHO. Assim, escrachado mesmo, porque palavra bonitinha nenhuma consegue sequer expressar a magnitude disso. Porque abdicar de boa parte da vida para criar um novo humano e ser responsável pela formação de caráter dele é uma responsabilidade imensurável. E toda vez que eu revejo as partes memoráveis da minha vida eu penso tudo o que a minha mãe poderia ter feito se eu não estivesse lá. Mas ela me quis. Sonhou com isso e se sentiu especial em cada nova habilidade que eu adquiria.

Agora, reclamar de uma toalha molhada na cama, uma coisa que eu não acho, uma bagunça no guarda-roupa ou a vontade de largar tudo, é normal. Compreensível. Mãe é tudo igual no fim das contas mesmo. A questão é que a gente não entende. Acho que nem elas entendem direito como funciona toda essa lógica de "instinto de maternidade" que a Discovery Channel tenta explicar. Eu não acredito em entendimento. É coisa que acontece e a gente se deixa levar. Igual crescer. Uma pena que não dá pra decidir se quero crescer. Ou não. Eu ia acabar me arrependendo no final. Ainda bem que mãe decide no nosso lugar.

4 comentários:

  1. Acho engraçado como as pessoas (e me incluo aqui) realmente se esquecem de olhar os outros vários lados das várias coisas por aí. Inclusive ser mãe. A gente esquece as mães sentem, sofrem e se preocupam. E que as vezes aquele "não" que a gente recebe é justamente proveniente de um desses sentimentos. Mas a gente... simplesmente não entende. E esquece de olhar o lado dela. Adorei sua perspectiva Selma. Sua mãe é uma mãe de sorte! ♥

    ACESSO PERMITIDO. ♥
    www.acessopermitido.com

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  2. Fiquei meio sem jeito para comentar, fiquei sem palavras, só posso dizer: QUE TEXTO FORTE <3

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  3. Eu realmente não entendo nada sobre sentimento de maternidade. O mais próximo que chego é com a minha gata que peguei para criar desde o nascimento, mas mesmo assim não é a mesma coisa que ter um filho.
    Também não pretendo ser mãe, não sei se é algo para mim.
    Admiro muito quem é, mas não posso dizer que entendo pelo que a pessoa passa.

    ps.: mandei um e-mail para você!

    Com amor,
    Bruna Morgan

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  4. Que texto mais lindo! Acho que você foi no centro da questão: nada na vida é fácil e as pessoas insistem em romantizar tudo. :/
    Sempre quis ser mãe até virar professora. Hoje, não quero mais. Não tenho essa força e essa generosidade toda que as mães têm.

    (Fora o fato de ter que lidar com a pressão da sociedade que culpa e responsabiliza apenas a mãe pelo o que acontece com os filhos, enquanto o pai fica de boa).

    Beijos,

    Algumas Observações

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Um beijão, Selma Barbosa.